Duciomar Costa
Simplesmente Dudu, um cidadão paraense
INDIGNAÇÃO
Engana-se quem imagina que somente os éticos se indignam, os patifes também têm seus momentos de chilique moral.
A indignação verdadeira é um sentimento silencioso, paralisante, invasivo. É como um amargor de repugnância na boca, um esgar de nojo que se materializa em escarro. Escarro profundo e humano.
Mas a indignação também pode ser presunçosa, que se materializa em gestos afetados, que transpira, afronta, grita a plenos pulmões, que dita impropérios e que joga na fogueira quem descumpre as regras e subverte a ordem. Somente o ser humano é capaz de se indignar. Nenhum outro animal sente a cólera e a repulsa característica da indignação. É a indignação que reabilita nossa crença na humanidade.
Os patifes também se indignam. Mas para esses, a indignação é mero instrumento para mascarar desejos inconfessáveis. Eles não se importam com a verdade, mas com a conveniência e a oportunidade. Basta um arremedo de verdade. É necessário também que incendiários inescrupulosos os instiguem para macaqueação da defesa da moral pública ganhe corpo, embora sem consistência.
É preciso, entretanto, separar o joio do trigo. Há os que se indignam porque se empenham em buscar a verdade. Não se intimidam, botam a boca no trombone e não se limitam somente a atirar os fatos na cara deslambida dos culpados, querem a plenitude da consecução da justiça.
Esses são indispensáveis. Esses são o trigo da terra. Esses personificam a indignação verdadeira, levando luz onde foi instalada a penumbra.
São as vozes dos que foram instalados a calar. Esses não atiram pedras a esmo, porque reconhecem que a verdade e a justiça não podem ser tratadas como um jogo, que se movimenta somente pelo pêndulo da conveniência e da vantagem.
Muito distante da verdadeira indignação, há os canalhas, cuja ética está soterrada debaixo de várias camadas de descaramento e cinismo. Essas criaturas sem brilho e servis passam uma indignação tão pálida e desusada que quando agravam os pecados alheios, quando difamam, injuriam ou caluniam, se transformam em patéticas criaturas, seres dissonantes, tão inverossímeis como a verdade que julgam defender. Quando ruminam sua moral nanica contra alguém se engasgam com insuficiência de suas razões.
A história está repleta de homens bons, justos e empreendedores notáveis que foram tragados pela maldade, pelas ofensas e agravos de criaturas que escarnecem de quem lhes mostre a verdadeira estatura de suas almas infames. Basta que surja alguém que destrói que sai do tom de suas rotinas sem propósito para que atirem pedras e vociferem como fariseus dispostos a matar quem distorça seu credo raso e vingativo.
Lembra a história do hospital Sírio Libanês que impuseram o fechamento, porque a forma de aquisição do prédio estava errada? Deveríamos enfileirar todos os cadáveres nas fachadas dessas boas almas legalistas e ortodoxa, pois foi graças à intransigência dessa gente de espírito social avantajado, que o mundo ficou um pouquinho pior.
Mais e ai? Vamos deixar essa cambada, falar, escrever, decidir o que bem entende? Será o silêncio menos grave que o soco no animo desses predadores da moral alheia? Senhor, cresci ouvindo que se alguém age contra a justiça e eu permito agir, então a injustiça é minha.
DUCIOMAR COSTA